Um Pommelier está para a Sidra, o que o Sommelier está para o vinho. Diferentemente dos vinhos, que podem variar demais de um produtor para outro, ou de uvas diferentes, as Sidras tem variações significativas dos sucos das maçãs dos mesmos pomares, ou diferenças brutais de um ano para outro, mesmo sendo feitas da exata mesma maneira. Ao serem engarrafas, os mesmos sucos produzirão Sidras completamente diferentes, e isso dá o seu caráter único, presente em cada garrafa. É como se cada suco “decidisse por si” no que deseja se tornar. Sidras podem ser mais frescas, ou serem envelhecidas por longas temporadas. Ainda, podem ser feitas de maçãs ou de pêras, o que traz mais diversidade e diferenciação entre elas. 
Um Pommelier está para a Sidra assim como um Sommelier para o vinho—mas ah, que enigma se esconde sob a casca dessas frutas encantadas! Se no vinho a mão do homem e a videira dançam juntas, ditando o destino de cada garrafa, na Sidra há algo mais selvagem, mais indomável. Pois ainda que colhidas do mesmo pomar, ainda que extraídas com o mesmo esmero, as maçãs parecem sussurrar seus próprios desígnios ao suco que delas nasce.
De um ano para outro, o mesmo fruto se transmuta, caprichoso como um espírito inquieto, e o que um dia foi brilho efêmero pode, no tempo, tornar-se néctar profundo. Sidras podem ser jovens e vibrantes ou maturadas em longos sonos, adquirindo mistérios que apenas a paciência revela. E não só das maçãs se faz essa poção mutável—também as pêras entram na dança, acrescentando novas nuances ao que já é um jogo de alquimia e destino.
Na taça, cada gole é um sussurro do passado, um segredo do pomar, um convite ao desconhecido.
Uma Sidra, ou no inglês, uma Hard Cider, é o suco de maçã transformado em álcool por meio de leveduras específicas. Apesar da Sidra poder ser feita de qualquer maçã, geralmente os produtores preferem alguns tipos especiais de maçãs, chamadas de maçãs de Sidra. Essas maçãs não são as maçãs de sobremesa que comemos no Brasil. Elas costumam ser muito moles, com altas taxas de açúcar e extremamente ácidas e adstringentes. Há muito tanino nelas. Essas características fazem elas não serem prazeirosas de comer. Já as leveduras usadas para a fermentação da Sidra, podem ser “selvagens” ou naturais, ou “leveduras inoculadas ou cultivadas”. 
As Sidras de pêras são conhecidas com “perry”. O processo de fermentação dessas é semelhante aos das maçãs, e as frutas selecionadas para este fim são chamadas de “pêras perry”. 
A história da Sidra é muito antiga. Na Grécia era a sikera, no latim sicera. Mas há registros dos termos shekhar no hebraico ou sakar, no árabe. Em sua maioria, os termos significavam somente “bebida forte”. A Sidra são tão antigas quanto o vinho ou a cerveja e fazem parte da história humana.